RESENHA

MÁRIO (& ROSINA)
por Izabel Brandão
Professora titular de literatura da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Alagoas. É também poeta.

É uma história linda, inesperada. Karina consegue manter a atenção de quem está lendo. A perspectiva de colocar a história na fala de um mecânico é muito inusitada, porque como saber o que pensa um mecânico? Penso que a fala do Mário é muito interessante; a perspectiva dele, o carinho que ele tinha pela Rosina, só que a Rosina é surpreendente porque como leitora, você tem toda a perspectiva de uma pessoa que, aparentemente, só tem existência no olhar de Mário, que já está todo ‘acostumadinho’ com a história entre eles e, de repente, ela dá uma guinada e o desfecho chega de uma forma absolutamente extraordinária! A história de Ana Karina Luna é ótima, tem substância.

O narrador é convincente, tem ótimo senso de humor e as metáforas da mecânica do carro são boas. A dúvida sobre quem é o narrador, no começo, é também muito interessante.

O título do jeito que está parece-me perfeito, foi o que me chamou atenção logo de imediato: por que Rosina está ‘entre parênteses’ e rodeada de enfeites? Mas ela é uma personagem muito maior que apenas alguém rodeada de enfeites... Os parênteses no título são uma decisão inteligente, pois parece óbvio Rosina ser tida como ‘posse garantida’ para Mário, aliás, as mulheres são sempre vistas assim. Os parênteses alimentam o que parece óbvio, mas tudo se descontrói no final. Parabéns.

Triste desfecho para Mário. Rosina de uma só tacada ‘descobre-se’ mulher de vontade e decisão e, em suas múltiplas justificativas, encerra maravilhosamente a história. Quer ser e não pede licença, quer ser levada a sério. Excelente!

Maceió, nov/2020.